Gucci abriu a Semana de Moda de Milão com seu desfile Outono/Inverno 2025, intitulado “Continuum”. Não havia um novo diretor criativo, a saída repentina de Sabato De Sarno no início do mês deixou a marca sem um nome à frente, mas o estúdio de Design da Maison italiana assumiu o comando. A expectativa de uma surpresa ou uma mudança drástica pairava no ar, mas, em vez disso, a Gucci mergulhou em sua própria história, trazendo uma coleção que une passado, presente e futuro em um fluxo contínuo de artesanato, estilo e cultura.
O Cenário e a Atmosfera
O desfile aconteceu em um espaço amplo e cinematográfico, digno de um covil de vilão de um filme de James Bond: um tapete verde-escuro, cortinas de veludo, teto espelhado e uma passarela iluminada com o icônico logotipo duplo G interligado. Uma orquestra ao vivo tocava uma trilha sonora personalizada, reforçando a essência dramática e atemporal que sempre caracterizou a Gucci. Era o palco perfeito para uma coleção que celebra a “sprezzatura” italiana – aquela descontração estudada, o perfeito imperfeito – um modo de viver e se vestir que está no DNA da marca desde sua fundação por Guccio Gucci em 1921.


A Coleção: Um Olhar ao Passado com os Olhos do Presente
Sem um diretor criativo no leme, o estúdio de design voltou-se aos arquivos da Gucci, prestando homenagem ao fundador e aos códigos clássicos da casa. A coleção abriu com um visual que remete ao filme House of Gucci (2021): pele sintética volumosa, um body de renda lilás, uma saia lápis de lã e óculos de aviador grandes no estilo geek-chic – uma referência direta à estética vintage do prêt-à-porter inicial da marca, que só começou em 1981, apesar de sua fundação décadas antes.


A inspiração principal veio dos anos 1970, uma era recorrente na história da Gucci, evocada por nomes como Tom Ford, com seu hedonismo brilhante do Studio 54 e Alessandro Michele, com seus acessórios maximalistas. Casacos de tweed grossos, vestidos de renda sedosa, ternos trespassados com lapelas longas e ombros largos desfilaram pela passarela, misturados a toques excêntricos: uma saia de cintura baixa em laranja tangerina, um terno roxo-cinza monocromático com blazer oversized e bolsas de viagem com logotipo. Veludos fluidos, twinsets, meias-calças roxas e tons de ocre e siena queimada adicionaram profundidade a uma paleta que equilibrava o retrô com o contemporâneo.


Havia espaço para detalhes únicos: cachecóis sobre bonés de beisebol, botões grandes em vestidinhos de lã, suéteres enfeitados em verde ácido e um raro vestido longo preto metálico com corte minimalista. A coleção, criada para homens e mulheres, destacou peças suntuosas e estilizadas, desenhadas para realçar a personalidade de quem as veste – uma marca registrada da Gucci.


Uma História de Continuidade
“Continuum” não é apenas um título; é a essência da Gucci. A Maison é um mosaico de múltiplos guardiões – artesãos, designers, comunicadores e clientes – cada um trazendo sua história, todas interconectadas. A coleção reflete isso: universal e pessoal ao mesmo tempo, ela reinterpretou elementos que já significaram algo para muitos, adaptando-os às gerações atuais. Dos anos 1950 aos 1990, com foco especial nos 1970, a Gucci mostrou que seu estilo evolui, mas mantém raízes profundas.


Dez anos atrás, Alessandro Michele assumiu a marca em um momento de transição, preparando uma coleção em cinco dias e redefinindo seu futuro. Hoje, sem um sucessor imediato após De Sarno, o estúdio de design provou que a Gucci pode se sustentar em seus próprios códigos. O desfile terminou com uma reverência coletiva da equipe, um gesto simbólico de união e confiança em um futuro que, como a coleção sugere, será ancorado nos clássicos com pitadas distintas da identidade da marca.


O Que Vem a Seguir?
O mundo da moda segue curioso sobre o próximo capítulo da Gucci. Se esta coleção é uma pista, a marca continuará a olhar para trás para seguir em frente, misturando tradição com sua assinatura inconfundível. Em um momento de transição, o desfile Outono/Inverno 2025 foi mais do que uma apresentação de roupas – foi uma afirmação de que a Gucci, com ou sem um diretor criativo, permanece uma força atemporal.